
Um sopro de vento terrivelmente gelado tocou-lhe a face ao abrir a janela do quarto. As cores do crepúsculo se misturavam com a visão turva e pesada, enquanto o coração palpitava no peito ditando um ritmo descompassado. Soltou os cabelos, levou a mão ao rosto para sentir que não estava mais naquele pesadelo. Mais uma vez, na mesma hora da madrugada, o mesmo motivo fazia com que ela acordasse com a boca seca e um dor de cabeça sem explicação. Olhou para o lado e ele estava lá, dormindo sempre do mesmo jeito, tão sereno. Ela sentia a paz retornar a sua alma enquanto corria os olhos confirmando que era apenas uma agonia sem explicação que a fez despertar. Pensava no medo de acordar sem que ele estivesse ao seu lado. Pensou na espera, na longa espera. Pensou nos dias em que a saudade era tanta, que parecia não mais caber no peito
- Vivo os meus sonhos!
Repetia isso baixinho diversas vezes para confirmar que era a mais pura verdade. Fechou a janela, acomodou-se na cama, abraçou o travesseiro, enroscou o edredom entre pernas, fechou os olhos e adormeceu novamente. Os barulhos infernais logo acabariam com seu pouco tempo de descanso. O dia ia nascer e ninguém estaria ao seu lado, ainda não era a realidade, porque, ela vivia de sonhos.