sábado, 31 de outubro de 2009

O azul da tinta

Eu tenho muito que escrever.
E as minhas mãos sedentas para sangrarem o azul da tinta,
irão registrar aflitas esses sentimentos meus.

O poeta escreve para que cada palavra sinta,
que aos versos, ele jamais dirá adeus.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Grãos de café, folhas de chá e um amor [Parte Final]

A noite chegou sem que eu percebesse. Conversamos sobre tantas coisas, discordamos e rimos de muitas outras. Tínhamos muito em comum, e ao mesmo tempo, nada parecia igual, mas a atração era mútua. Contou-me sobre o trabalho, já que isso era algo comum entre nós. A hora passou como se não existissem relógios, compromissos ou qualquer outra coisa que poderia nos prender. Falamos sobre infância, brincadeiras, escola, família, livros, discos antigos, viagens, sonhos, segredos, amores, mentiras e solidão... Falamos em pouco tempo de todo um passado vivo, um presente solitário e um futuro incerto. Falei das flores que gosto, dos dias que choro; das perdas irreparáveis; dos erros cometidos e das escolhas erradas.

Ele ofereceu a mão amiga, o sorriso terno e a palavra boa. Leu poemas e depois me disse que fazia coisas das quais não gostava, apenas para não sentir-se sozinho demais. Às vezes, saía para agradar pessoas e manter um sorriso enquanto a alma chorava. Surpreendeu-me quando disse:- Quase não tomo café, apenas faço, sinto o cheiro, tomo um gole e imagino que alguém está comigo, dividindo uma hora boa... Uma hora de diálogo cúmplice. Eu disse que optava pelo chá, e sempre fazia o mesmo ritual, e esperava com isso, o que ele também esperava: um bom papo, um dividir de idéias... Uma companhia. Ele me olhava como se me conhecesse antes de qualquer tempo.

Disse que não foi por causa de uma xícara que chegou até a mim, mas pelo descompasso bobo que sentia no coração quando me via passar, quando analisava meus gestos, o desenho do meu rosto; o mistério dos meus olhos; o ondulado dos cabelos e o sorriso contraído, sempre tímido. Sem dizer nada, pegou minhas mãos, segurou firme e as beijou. Depois disso, levantou-se, despediu-se e disse que precisava retornar para casa: - Preciso ir, é tarde, tu tens seu espaço, deves estar querendo ficar só. Mande-me ir embora, senão, daqui não saio! Sorrimos, ele soltou minhas mãos e caminhou em direção a porta. Nesse pouco tempo, pude perceber que certos momentos, por breves que sejam, valem mais que uma vida inteira. Segurei suas mãos novamente, beijei-lhe o rosto e disse:- Obrigada, meu coração hoje está repleto e vivo. Ele sorriu, abaixou a cabeça, depois alinhou os olhos junto aos meus. O mundo parou.

O que eram aqueles olhos? Não pude resistir, o trouxe junto a mim e disse: - Fica comigo esta noite? Fica comigo pra sempre? Ele me abraçou na mesma intensidade, afastou-me segurando meu rosto: - Fico, ficarei contigo pra sempre, deixe-me fazer parte da tua vida, pois da minha tu tens sido dona há muito tempo. Assim, olhos nos olhos, nossas bocas se tocaram, desejosas. Nossas mãos fizeram-se uma da outra. Nossos corpos pediam encarecidos por uma mesma alma...

Amanhece. Acordo o som de "Feeling Good" de Nina Simone. Sinto o cheiro de rosas novas e o aroma gostoso de café e chá que vem da cozinha. Ganho um beijo teu, enquanto me dizes baixinho: - Bom dia, minha linda! Fiz meu café e teu chá, vamos dividir essa hora boa? Eu amo você!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Grãos de café, folhas de chá e poesia

Parte III

Sábado. Hoje não difere muito dos outros dias, apenas não tenho expediente. Fico em casa, leio, arrumo gavetas... A noite é sempre igual, a não ser que caia uma chuva boa, ou eu assista algum filme antigo. Eu poderia pensar em coisas diferentes. Sair e me distrair como a maioria dos mortais, mas imortalizei-me no meu canto. Fechei as portas do castelo e amarrei-me num laço de fita. Sei que é mais um dia de solidão desmedida, mesmo assim, não consigo deixar de imaginar que ele possa bater à porta a qualquer momento, trazendo-me a xícara. Desde algum tempo o tenho reparado. Não sei se ele chega a notar, mas faço isso sempre discretamente. As condições favoráveis são muitas. Moramos no mesmo prédio; trabalhamos no mesmo escritório e freqüentamos o mesmo restaurante. Sempre o vejo. Observo os detalhes que a mim são tão importantes. O modo como ele sorri, o espaço entre os dedos quando está segurando algo; a pele branca, o contorno dos olhos levemente maltratado por olheiras e os olhos donos de uma cor encantadora. Não consigo deixar de pensar. Perco-me agora em meio a essas divagações.

Ouço a porta. E se for ele? Preciso olhar-me no espelho e não posso demonstrar ansiedade. É complicado ser diferente do que sou, mas devo tentar nesse momento. Vou até a porta aparentando calma: - Oi, vizinha! Como prometido, estou aqui. Vim devolver-te a xícara, que já não é a mesma, mas a intenção é a melhor possível. Ele estende as mãos e entrega-me uma caixa decorada de um papel florido em tons pastéis. Abro e logo me surpreendo: - Que linda! Obrigada pela gentileza. Por favor, entre. Ele pede licença, diz que não quer incomodar, e entra. Digo que irei preparar um chá, para que eu possa fazer uso da xícara nova. Ele sorri quando vê as rosas dispostas sobre a mesa: - Gostaste das rosas? Respondo olhando-o firmemente nos olhos: São minhas prediletas. Ele sorri de lado, como um menino tímido e enquanto se ajeita para sentar, pede-me para ver alguns títulos que estão na estante: - Tu tens bons poetas aqui. Eu sou amante da poesia. Posso tomar um desses, enquanto preparas o chá? Apenas faço sinal de afirmação com a cabeça, enquanto procuro minha caixa de folhas de chá.

Fico observando-o de longe, folheando meu livro predileto. Arrumo as xícaras e o convido para vir sentar-se a mesa: - Venha, está pronto. Traga o livro se quiser. No caminho, o ouço declamando um o trecho de um poema: “Num ímpeto difuso de quebranto, tudo encetei e nada possui. Hoje só resta-me o encanto, das coisas que beijei e não vivi”. Logo identifico os versos: - “Quase” – Mario Sá Carneiro. – Tu és boa nisso! Bem, se Mario ao escrever esses versos, diz que beijou e não viveu, digo-te agora, do teu chá irei beber para de ti, um pouco viver. Não pude deixar de sorrir, eu tinha agora, no mesmo horário de sempre, alguém comigo, tomando do meu chá e fazendo-me versos...

Continua...

Grãos de café e folhas de chá

Parte II

Confesso que fiquei ansiosa a noite toda, pensando se a xícara seria devolvida no outro dia. Dormi feliz e esperançosa, pois de algum modo teria uma desculpa de ir ao apartamento ao lado, nem que se fosse para buscar minha estimada xícara de volta. Segui minha rotina de todo dia, mas algo me dizia que o fim de tarde seria diferente. Sento no sofá no mesmo ritual de sempre. O chá, em pequenos goles, aquece meus pensamentos. Fico a imaginar se ele realmente viria. Escuto baterem a porta, meu coração acelera e logo tento recompor a minha calma.

Caminho em direção a porta não conseguindo esconder o sorrir solto. Quando abro: - Flores para a senhorita. Um entregador simpático entrega-me um lindo buquê de rosas vermelhas, acompanhadas de um cartão singelo, escrito com caligrafia bem feita:

"Essas rosas servirão de desculpas até que eu compre uma nova xícara, pois a tua, num descuido de homem desajeitado, quebrou-se. Amanhã entrego-lhe outra, tentarei ter o mesmo bom gosto ao escolher este mimo".

Me perdoe,
Vizinho ao lado.

Bem, agora eu tenho duas desculpas. Pensei logo em ir até lá, e dizer a ele que não precisava se incomodar, xícaras são xícaras, mas algo conspirava a nosso favor. Olho as rosas, pego minha xícara de chá e releio o cartão tão delicado, envolvido em um perfume clássico. Tudo agora é um misto de aromas... Meu coração marcado por batidas largas, aliadas a suspiros profundos, retoma minha crença em algo novo, vivo e verdadeiro. Sei que ele não me olha a toa, quando inesperadamente cruzamos os corredores do prédio. Posso ver naqueles olhos um desejo escondido. O charme, a delicadeza das palavras, leva-me a delongados pensamentos de como seria estar junto a alguém como ele, dividir um assunto, olhar nos olhos, sorrir, ser compreendida e quem sabe, até tomar gosto por café.

Continua...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Grãos de café e folhas de chá

Parte I

O aroma exalado na hora de sempre, faz-me imaginar cada detalhe do morador ao lado que rotineiramente segue o rito de sentar-se à mesa, para tomar café sozinho. Por certo, meus pensamentos chegavam desse modo, porque minha ação daquela hora era sempre a mesma. Às 17h15min, eu já havia fechado a porta e estava na cozinha olhando as bolhas saltarem aflitas na chaleira, a espera de serem beijadas pelas folhas de chá organizadas em minha caixa de madeira rústica. Minha solidão jogava-me ao sofá onde de olhos contraídos e xícara na mão eu deixo-me envolver em devaneios: - Eu poderia dividir meu chá e uma conversa boa.

Pensei diversas vezes em bater na porta ao lado e fazer tal convite. Poderia ser atrevimento, mas, olhar de novo aqueles olhos seria a mim um agrado. Aquieto-me e o chá desce quente enquanto o aroma invade minhas narinas deixando-me ainda mais desejosa de uma companhia agradável. Sorrio, apenas sorrio. Nada mais devo fazer, pois se eu render-me aos meus insensatos pensamentos, usarei à velha desculpa de pedir uma xícara de açúcar. Comprei esse ingrediente justamente pra isso! Em meio aos risos, ouço baterem a porta, isso é uma surpresa a mim nesse horário: - Oi vizinha, podes me empresar uma xícara com açúcar? Não pude acreditar no que via e também não pude deixar de sentir-me atraída por aqueles olhos incríveis. -Tenho sim, já lhe trago. Viro as costas e nem percebo a falta de compostura de minha parte, não fiz convite para entrar, isso me faz franzir a testa e pensar no quando sou descuidada.

Ajeito a xícara com o açúcar e trago junto um sorriso que é para desfazer o mal feito:- Desculpe-me, nem o convidei para entrar... De repente, sou interrompida com um quedar de cabeça em sinal de apreço: - Não se preocupe, quando eu vier devolver a xícara, aceito o convite, obrigado. Eu não digo mais nada, apenas encanto-me quando ele gentilmente beija a minha mão e despede-se. Fecho a porta, sento-me novamente e digo pra mim mesma: - Ele levou uma das minhas xícaras prediletas e eu nem uso açúcar. Sorrio. O chá está já frio, acrescento mais algumas folhas e água quente e retomo meus pensamentos. Já não há como fugir deles nesse momento.

Continua...

domingo, 25 de outubro de 2009

Sem compromisso


Por que me falho?
Por traço um caminho, e escolho um atalho?
Faço falta a mim quando caminho sozinha.
Sinto uma solidão pequena, perdida em meio a casa.
Nesses momentos, sou pássaro de uma só asa.
Pássaro de uma só asa não voa.
Coração que ama sozinho destoa.
Poesia atada se solta.
Caminho escolhido, nem sempre tem volta.
Sim, eu oscilo nos versos, sempre faço isso,
porque sou escrava dessa minha poesia sem compromisso.


sábado, 24 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lucidez perdida

Neguei a ti quando perguntastes a mim se ainda te amo. Vi apenas teu sorriso faceiro dizendo sem palavras que isso era uma mentira descabida. Fugi do alcance dos teus olhos para que eles não mais me fizessem prisioneira, mesmo assim, não tive saída. Eu não sei negar-te por vezes seguida. Eu não sei mais tentar esquecer ou matar em mim o que ainda persiste. Alguém sabe a cura quando o amor ainda existe? Entrego-me a melodia de tua voz e o encanto das tuas palavras dizendo-me o quanto ainda me quer.
Tu sabes o quanto te amo, e o quanto sofre o coração de uma mulher. Vou dizer-te, não sei passar meus dias sem que seja somente para viver desse amor. E quando, de repente, tu chegas de mansinho, olha-me nos olhos e imploras um beijo, eu não resisto, e buscar por razão, já nem mais insisto. Entrego-me ao teu doce carinho. Desejo-te tanto, que minha lucidez já perdeu-se ao longo do caminho.

Jardim secreto


Carrego em mim um jardim secreto.
Flores raras de folhas novas.
Sou dona das telôneas, zíbulias, feivíteas...

Faço a poesia de qualquer hora e amarro todas as flores num verso com laço.
Eu tenho um jardim secreto de amores.
Cultivo o que sou, do jeito que sou e da maneira que faço.
Fiz-me flor agora. Faço chuva e sol da minha janela... Faço-me tão eu.
Egoísmo de flor achar que pode ter um jardim só pra ela.
Flores podem, eu posso.
E por momentos assim,
eu invento o meu secreto jardim.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Lavando a alma







É bom ser feita de extremos.

Qual é o teu limite, Jacque?


Quem mandou amar a confusão das coisas?

Amo o desentido, o estranho, o que ninguém entende.

E tão somente amo a mim.

Meu limite?

Quem ama não limita-se a meia dúzia de lágrimas.
Eu amo, estranhamente amo,
e, não há limite para tamanho sentimento.
Se eu sofrer?
Eu sei o que é sofrer, à mim, não será novidade.
Deixo.
Assim vivo.
E saibam, não há nada mais intenso do que viver assim.


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Estar em mim



Estar em mim é tão precioso, que ouço meu eu verdadeiro dizendo-me quem sou.
É como um sopro de calmaria quando a tempestade se ameniza sobre o mar.
Estar em mim é reconhecer os desjeitos aos quais, tantas vezes me dou.
Acho-me entre labirintos, dou-me a mão e suspendo qualquer pesar.

Eu sei reconhecer-me em meio ao que sou, mas não sei dizer como faço.
Apenas recorro as palavras e ao alívio dessa minha alma itinerante.
Já não mais recuso minhas insanidades, e nem de mim, faço embaraço,
Apenas deixo seguir certas rotas escolhidas, e não mais o caminho errante.

Guardo um livro secreto dentro de mim.
Aprendo sobre pessoas, perigos e possibilidades.
Tenho a vastidão de um canto de quarto,
e um pequeno aparato em minha mão.
E nessas horas em que me encontro de fato,
Nada mais importa ao meu descrente coração.
Eu tenho um modo estranho e abstrato,
Meus devaneios, sinceros e eloqüentes, assim é que são.
Não mudarei qualquer coisa, isso é fato,
mas, farei com que todos saibam, que nem sempre agi com razão.

sábado, 17 de outubro de 2009

Sinto e escrevo



Não sei negar aos versos esses pedidos desesperados.
Não sei acolher em meus pensamentos o isolamento.
Não sei ignorá-los por mais que sejam inventados.

Queria poder dizer nestes versos tudo o que meu peito sente.
Eu já não sei deixar de fazer poesia, vivo ao sopro das palavras.
Eu não sei ignorar a escrita como quem ignora o ausente.

Queiram não entender o que sou, é tão estranho.
Eu não sei deixar de escrever quando sinto.
Eu não sei guardar palavras em caixas de igual tamanho,
nem sei dizer quando na escrita eu minto.

A minha verdade é tão mentirosa que envergonha o papel.
As minhas mentiras são tão sinceras que me convencem.
Eu faço um mundo só meu, e nele, há um inferno e um céu.
Sou egoísta, minhas palavras somente a mim pertencem.

Leiam vocês! Leiam tudo o que aqui, minhas mãos inventam.
Sinceramente, parece mentira o que aqui deixo escrito?
Não confiem nos olhos, eles, por muitas vezes só salientam.
Confiem nas palavras, elas sabem como deixar um poema bonito.


Não quero folgar os meus sonhos.
E nem desmerecer nenhum verso.
Só quero um pouco de mim,
porque não sei aceitar o reverso.

Só sinto e escrevo.
Vivo e sei,
que eu te amo, e sempre, te amarei!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Entoo canções, faço poemas e deixo-te beijos




Deixo a embriaguez e o folgar de delírios consumirem meus dias.
E meu amor o vento espalha nessas manhãs de constâncias eternas.
Meu coração suspira banhado em águas claras de calmarias.
E o meu riso franco já não mais se sufoca por coisas externas.
Sou o que vejo de mim e o amor que no peito carrego.
Meus versos já não caminham em linhas retas.
Faço de mim um sossego. Por amor, eu mesma me entrego.

Amo na intensidade das forças que geram lampejos.
-Somente a ti, entoo canções, faço poemas e deixo-te beijos-

Lágrimas? Maldigo-as agora! Apenas sorrisos me usam.
Por ti irei desprender meus ermos e serei de mim o melhor.
Somente por amor hei de correr onde nossos caminhos se cruzam,
para dizer-te que o que sinto, não é falho, e sim verdade maior.

Mesmo que de nada me valha, irei te amar e morrer de desejos.
-Somente a ti, entoo canções, faço poemas e deixo-te beijos-


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ex abrupto, poesia



Eu não sei livrar-me dos versos que faço.
Eu não sei deixar este amor insano.
Eu não sei recriar outro espaço.
Eu não sei deixar de dizer o quanto te amo.

Eu não sei mais esperar se você não vem.
Eu não sei mais ficar sem teu carinho.
Eu não sei dizer-te outra coisa, meu bem.
Eu não sei mais deixar você tão sozinho.

E faço poesia pra que tu saibas enfim,
Que meu amor é só teu, isso não nego,
E de minha boca só terás beijos de mim,
E as palavras que agora te entrego.

Hoje acordei te amando mais ainda,
Assim eu te disse, meu anjo cativo.
Tu és a razão que tenho na vida,
Tu és esse amor que tanto vivo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rendição

No caminho, entre lágrimas, apressava meu passo para que tu não me alcançasses. Sigo pela calçada, atordoada e segurando ainda nas mãos o botão de rosa que tu me destes. Eu devia afastar-me, mas não conseguia pensar em mais nada. Meus pés seguiam, mas meus pensamentos me continham naquelas tuas palavras... Tuas derradeiras palavras, pedindo pra que eu ficasse junto a ti, apenas mais uma noite. Não pude atendê-lo, dei de costas e soltei minha mão das tuas, segui até a porta, parei diante dela, apertei os olhos para que as lágrimas se desprendessem e rolassem pela minha face.

Ainda ouço de ti: “Fica, fica comigo...” Viro de frente, teus olhos pedem encarecidos por mim. Não resisto, corro até a ti, seguro-lhe o rosto, beijo-lhe a boca enquanto sinto teus braços contornando-me, trazendo meu corpo cada vez mais junto ao teu. “Não, não posso...” Saio de ti, abro a porta e desço as escadas a tempo ainda de olhar para trás e vê-lo, olhando-me ir embora. “Não posso... mas, quero tanto...” Sigo repetindo estas palavras pela calçada, na esperança de que tu me alcances e tira-me de vez essas idéias. Olho para o céu, é quase noite, logo recebo um pingo gelado de chuva. Parece um caminho sem fim, para que não acha sentido em nada.

De repente, ouço meu nome, tu vieste atrás de mim, ainda vieste... Peço encarecidamente que me deixes, que suma de vez. Tu me pedes para que eu entre no carro, pois a chuva logo virá. Eu apresso o passo, tu desligas o carro, sai ao meu alcance, segura-me firme pelos braços e diz: “Não consegues entender o quanto amo-te?” “Não devo, não posso ficar contigo” Tu repetes incansáveis vezes: “Ama-me! Ama-me! Sou teu, sou teu !” Enquanto o ouço repetir estas palavras, meu coração agita-se ao máximo, meu corpo estremece ao teu toque, meus olhos tentam não olhar os teus, abaixo a cabeça, faço movimentos bruscos, enquanto sinto a força de tuas mãos em mim.

A chuva cai, levanto os olhos, tu ainda repetes as mesmas palavras, olho o movimento de tua boca, teus lábios se tocam desenhando as palavras: “Ama-me! Ama-me! Eu me rendo, e digo: Cala-te, e me beija! E assim, na chuva, na intensidade do que somos, tu me olhas nos olhos e diz: “Ficas comigo nesta noite de chuva? “ Respondo-te sorrindo: “ Fico, não só esta noite, mas todas elas pra sempre ao teu lado.”

sábado, 10 de outubro de 2009

Pensamentos livres [dueto]


“Não há prisão que possa enclausurar estes meus versos, nem algemas ou correntes atadas a minha alma.”“Sou completamente livre como o vento.” “Sopro e suspiro, suspiro e sopro.” Vou aonde bem quero, quando quero, levando comigo de arrasto só aquilo porque me interesso...”

[Álvaro]


...”Não faço versos com quem pensa, apenas sinto e discorro sobre o papel o grito mudo contido nesse meu peito que só sente igual.”
“Sou viajante errante desses ventos. Deixo-me levar, sou livre quando suspiro ao som do sopro macio de uma brisa do mar ou a intensidade de um temporal”.
“Sou o que faço, sinto, escrevo e vivo, mesmo quando a inspiração me renega. Faço valer a liberdade que tenho. Eu sou aquela que na escrita se entrega”

[Jacque]

Intranquilidade quieta



Por um poema pequeno,
um verso sem rima;
ou, um poetar sem sentido;
escrevo por breve descuido,
promessa curta ou necessidade.
Rabisco o papel a fim de curar-me.
Recolho com zelo absoluto cada palavra,
depois as uso com intensa maldade.
Oscilo.
Sim, eu oscilo nos versos.
Amanhã uma nova inspiração,
um novo rosto.
E assim, vou sendo poeta,
vivendo tão somente,
dessa minha intranquilidade quieta.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Meu "eu" fugitivo

Eu quero oferecer a mim um refúgio. Quero deixar de lado toda a possibilidade de não merecimento. Quero me abraçar e sentir meu coração. Eu preciso sentir meu coração, saber como ele ritma. Eu preciso me enxergar. Eu preciso reforçar meus apelos, sentar-me à beira de uma estrada abandonada por onde ninguém passa, e passar por mim várias vezes. Preciso conversar comigo pra saber como sou. Eu preciso de mim. Preciso aprender uma prece, um rito que seja. Preciso de qualquer coisa que me leve junto ao meu “eu” fugitivo.

Breve haicai


Ela via poesia onde ninguém mais via,
e por ver e não desmerecer,
ela amava quando ninguém mais acreditava.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sorrir com os olhos


-Tu não sorris?
- Sim, eu sorrio.
-Não, tu deves sorrir com olhos. Os teus olhos são tristes.
-O que é sorrir com os olhos? Não sei dessas coisas. Meus olhos servem para chorar, e não sorrir. Não aprendi a sorrir assim. Não aprendi muita coisa ainda...
- Te ensino. Tu deves arranjar um motivo pra sorrir todo dia, assim, quando menos esperar, não terás mais motivos pra chorar. É simples, é bobo... Mas, é assim que aprendi a sorrir com os olhos.
- Obrigada, nada como um sol após do outro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ainda espero


Ai de mim que penso tanto.
Penso nos deslizes que cometi.
Nada mais fiz pra satisfazer meus acertos.
Não sou mais aquela que usa desculpas,
nem mesmo quero ser igual a tantas outras.
Sou essa febre, essa doença sem causa.
Já não posso querer ser o que nunca fui.
Bastam-me as músicas de sempre.
Só isso, ainda é igual.
Já não agonizo no chão gelado,
nem morro da noite para o dia,
mas, ainda fico na janela...
Ainda espero... Como quem espera chuva,
dia de debutar, ou até mesmo uma viagem...
Não achei razões até agora,
para que eu deixe de estar a esperar.


Percepções lúcidas

Avanço o escuro e crio minha própria luz. Vejo todo esse igual rotineiro de maneira diferente. Guardo um espaço recriado em meio aos desenganos do passado. Busco uma alegria solta em sorrisos mágicos fulgurados por estrelas maiores. Saio de mim como se existissem outros caminhos, mesmo perdendo-me no meio da estrada. Cansei do pesar das horas frias e dos apelos esquecidos entre quatro paredes. Paredes brancas e sempre iguais, como minhas falhas repetidas. Sigo minhas escolhas, e o medo de antes, não mais acorrenta meus tornozelos. Sou tão entregue ao que sinto que já me vejo no egoísmo absoluto desses sentimentos que jamais se explicam. Deixarei que as palavras me comovam e o que os ventos guiem meus descompassados passos estreitos. Não medirei meus dias nas expectativas tolas dos sentimentos falsos, nem despertarei ilusões póstumas. Serei a minha loucura de sempre, não mudarei meus acasos em favor de outros que dizem ter a cura para minhas insanidades. Sigo ilesa, mesmo que me machuquem. Acendo minha vela e guio-me sozinha.

sábado, 3 de outubro de 2009

Um poema ingênuo


Eu queria voltar a ser menina.
Iria sair por aí com meu vestido novo,
de fita no cabelo.
Eu seria uma flor pequenina,
meu sorriso seria manso,
meus olhos ainda teriam doçura...
Minha vida seria uma brincadeira de roda,
e minha alma ainda seria pura.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fantasia



Quando o certo me convém, o que é errado permanece.
Não sei convencer a mim. Eu jamais me escuto.
Tenho tantos “eus”, que decidi deixá-los por aí.
Eles correm à solta, contra eles, já nem luto.

Sigo como se o chão aos meus pés não existisse.
Concretizo somente o que me interessa de fato.
Deixo escrito o que é válido, e não o que eu disse,
A descrença é agora, a conseqüência desse ato.

Verdadeiro e falso abraçam-se no mesmo altar:
-A Poesia-

Serei aquilo que a minha face representar.
Posso padecer de alegria,
posso sorrir de chorar.
Não fiz minha alma fria,
apenas irei viver dessa fantasia de amar.

Mortais



Ainda ando por aqui, mesmo que em silêncio e lamento.
Qual poeta não morre e vive dentro de si mesmo?

Mortais, somos simples mortais.
Ao passo que se vive, morre-se de sofrimento.

Vida

Vida
Há muito o que ser escrito...


A quem siga vivendo de alegria ou agonia... Eu sigo vivendo da minha alegre e agonizante poesia.
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