quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Grãos de café e folhas de chá

Parte I

O aroma exalado na hora de sempre, faz-me imaginar cada detalhe do morador ao lado que rotineiramente segue o rito de sentar-se à mesa, para tomar café sozinho. Por certo, meus pensamentos chegavam desse modo, porque minha ação daquela hora era sempre a mesma. Às 17h15min, eu já havia fechado a porta e estava na cozinha olhando as bolhas saltarem aflitas na chaleira, a espera de serem beijadas pelas folhas de chá organizadas em minha caixa de madeira rústica. Minha solidão jogava-me ao sofá onde de olhos contraídos e xícara na mão eu deixo-me envolver em devaneios: - Eu poderia dividir meu chá e uma conversa boa.

Pensei diversas vezes em bater na porta ao lado e fazer tal convite. Poderia ser atrevimento, mas, olhar de novo aqueles olhos seria a mim um agrado. Aquieto-me e o chá desce quente enquanto o aroma invade minhas narinas deixando-me ainda mais desejosa de uma companhia agradável. Sorrio, apenas sorrio. Nada mais devo fazer, pois se eu render-me aos meus insensatos pensamentos, usarei à velha desculpa de pedir uma xícara de açúcar. Comprei esse ingrediente justamente pra isso! Em meio aos risos, ouço baterem a porta, isso é uma surpresa a mim nesse horário: - Oi vizinha, podes me empresar uma xícara com açúcar? Não pude acreditar no que via e também não pude deixar de sentir-me atraída por aqueles olhos incríveis. -Tenho sim, já lhe trago. Viro as costas e nem percebo a falta de compostura de minha parte, não fiz convite para entrar, isso me faz franzir a testa e pensar no quando sou descuidada.

Ajeito a xícara com o açúcar e trago junto um sorriso que é para desfazer o mal feito:- Desculpe-me, nem o convidei para entrar... De repente, sou interrompida com um quedar de cabeça em sinal de apreço: - Não se preocupe, quando eu vier devolver a xícara, aceito o convite, obrigado. Eu não digo mais nada, apenas encanto-me quando ele gentilmente beija a minha mão e despede-se. Fecho a porta, sento-me novamente e digo pra mim mesma: - Ele levou uma das minhas xícaras prediletas e eu nem uso açúcar. Sorrio. O chá está já frio, acrescento mais algumas folhas e água quente e retomo meus pensamentos. Já não há como fugir deles nesse momento.

Continua...

Um comentário:

  1. Vim agradecer pela presença em meu blog, Jacque. Gostei de tua casa. Que façamos uma bonita amizade entre versos e palavras.

    Continuemos...

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