quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Grãos de café e folhas de chá

Parte II

Confesso que fiquei ansiosa a noite toda, pensando se a xícara seria devolvida no outro dia. Dormi feliz e esperançosa, pois de algum modo teria uma desculpa de ir ao apartamento ao lado, nem que se fosse para buscar minha estimada xícara de volta. Segui minha rotina de todo dia, mas algo me dizia que o fim de tarde seria diferente. Sento no sofá no mesmo ritual de sempre. O chá, em pequenos goles, aquece meus pensamentos. Fico a imaginar se ele realmente viria. Escuto baterem a porta, meu coração acelera e logo tento recompor a minha calma.

Caminho em direção a porta não conseguindo esconder o sorrir solto. Quando abro: - Flores para a senhorita. Um entregador simpático entrega-me um lindo buquê de rosas vermelhas, acompanhadas de um cartão singelo, escrito com caligrafia bem feita:

"Essas rosas servirão de desculpas até que eu compre uma nova xícara, pois a tua, num descuido de homem desajeitado, quebrou-se. Amanhã entrego-lhe outra, tentarei ter o mesmo bom gosto ao escolher este mimo".

Me perdoe,
Vizinho ao lado.

Bem, agora eu tenho duas desculpas. Pensei logo em ir até lá, e dizer a ele que não precisava se incomodar, xícaras são xícaras, mas algo conspirava a nosso favor. Olho as rosas, pego minha xícara de chá e releio o cartão tão delicado, envolvido em um perfume clássico. Tudo agora é um misto de aromas... Meu coração marcado por batidas largas, aliadas a suspiros profundos, retoma minha crença em algo novo, vivo e verdadeiro. Sei que ele não me olha a toa, quando inesperadamente cruzamos os corredores do prédio. Posso ver naqueles olhos um desejo escondido. O charme, a delicadeza das palavras, leva-me a delongados pensamentos de como seria estar junto a alguém como ele, dividir um assunto, olhar nos olhos, sorrir, ser compreendida e quem sabe, até tomar gosto por café.

Continua...

2 comentários:

  1. que belo conto. as reticências me fazem imaginar tantas coisas.

    que maldade nos fazer esperar pelo desfecho.
    estou adorando
    bjs

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  2. belo conto... e tu ainda dizes que não sabes escrever em prosa... os parágrafos até ficam tristes quando se vêem diante das estrofes...

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O que sentiu sua alma?

Vida

Vida
Há muito o que ser escrito...


A quem siga vivendo de alegria ou agonia... Eu sigo vivendo da minha alegre e agonizante poesia.
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