sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Grãos de café, folhas de chá e um amor [Parte Final]

A noite chegou sem que eu percebesse. Conversamos sobre tantas coisas, discordamos e rimos de muitas outras. Tínhamos muito em comum, e ao mesmo tempo, nada parecia igual, mas a atração era mútua. Contou-me sobre o trabalho, já que isso era algo comum entre nós. A hora passou como se não existissem relógios, compromissos ou qualquer outra coisa que poderia nos prender. Falamos sobre infância, brincadeiras, escola, família, livros, discos antigos, viagens, sonhos, segredos, amores, mentiras e solidão... Falamos em pouco tempo de todo um passado vivo, um presente solitário e um futuro incerto. Falei das flores que gosto, dos dias que choro; das perdas irreparáveis; dos erros cometidos e das escolhas erradas.

Ele ofereceu a mão amiga, o sorriso terno e a palavra boa. Leu poemas e depois me disse que fazia coisas das quais não gostava, apenas para não sentir-se sozinho demais. Às vezes, saía para agradar pessoas e manter um sorriso enquanto a alma chorava. Surpreendeu-me quando disse:- Quase não tomo café, apenas faço, sinto o cheiro, tomo um gole e imagino que alguém está comigo, dividindo uma hora boa... Uma hora de diálogo cúmplice. Eu disse que optava pelo chá, e sempre fazia o mesmo ritual, e esperava com isso, o que ele também esperava: um bom papo, um dividir de idéias... Uma companhia. Ele me olhava como se me conhecesse antes de qualquer tempo.

Disse que não foi por causa de uma xícara que chegou até a mim, mas pelo descompasso bobo que sentia no coração quando me via passar, quando analisava meus gestos, o desenho do meu rosto; o mistério dos meus olhos; o ondulado dos cabelos e o sorriso contraído, sempre tímido. Sem dizer nada, pegou minhas mãos, segurou firme e as beijou. Depois disso, levantou-se, despediu-se e disse que precisava retornar para casa: - Preciso ir, é tarde, tu tens seu espaço, deves estar querendo ficar só. Mande-me ir embora, senão, daqui não saio! Sorrimos, ele soltou minhas mãos e caminhou em direção a porta. Nesse pouco tempo, pude perceber que certos momentos, por breves que sejam, valem mais que uma vida inteira. Segurei suas mãos novamente, beijei-lhe o rosto e disse:- Obrigada, meu coração hoje está repleto e vivo. Ele sorriu, abaixou a cabeça, depois alinhou os olhos junto aos meus. O mundo parou.

O que eram aqueles olhos? Não pude resistir, o trouxe junto a mim e disse: - Fica comigo esta noite? Fica comigo pra sempre? Ele me abraçou na mesma intensidade, afastou-me segurando meu rosto: - Fico, ficarei contigo pra sempre, deixe-me fazer parte da tua vida, pois da minha tu tens sido dona há muito tempo. Assim, olhos nos olhos, nossas bocas se tocaram, desejosas. Nossas mãos fizeram-se uma da outra. Nossos corpos pediam encarecidos por uma mesma alma...

Amanhece. Acordo o som de "Feeling Good" de Nina Simone. Sinto o cheiro de rosas novas e o aroma gostoso de café e chá que vem da cozinha. Ganho um beijo teu, enquanto me dizes baixinho: - Bom dia, minha linda! Fiz meu café e teu chá, vamos dividir essa hora boa? Eu amo você!

2 comentários:

  1. ah... as belas histórias de amor.

    são tão irreais como necessárias.
    bjs

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  2. Foi muito gratificante a leitura do seu texto. Foi como o fluir das águas para o riacho, o aroma da mágica fragrância a invadir minh'alma, e um tango ritmado a ferver o sangue. Parabéns = Dharckan (LITERATURA RACIONAL) EDITORA ABRIL

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A quem siga vivendo de alegria ou agonia... Eu sigo vivendo da minha alegre e agonizante poesia.
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