terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rendição

No caminho, entre lágrimas, apressava meu passo para que tu não me alcançasses. Sigo pela calçada, atordoada e segurando ainda nas mãos o botão de rosa que tu me destes. Eu devia afastar-me, mas não conseguia pensar em mais nada. Meus pés seguiam, mas meus pensamentos me continham naquelas tuas palavras... Tuas derradeiras palavras, pedindo pra que eu ficasse junto a ti, apenas mais uma noite. Não pude atendê-lo, dei de costas e soltei minha mão das tuas, segui até a porta, parei diante dela, apertei os olhos para que as lágrimas se desprendessem e rolassem pela minha face.

Ainda ouço de ti: “Fica, fica comigo...” Viro de frente, teus olhos pedem encarecidos por mim. Não resisto, corro até a ti, seguro-lhe o rosto, beijo-lhe a boca enquanto sinto teus braços contornando-me, trazendo meu corpo cada vez mais junto ao teu. “Não, não posso...” Saio de ti, abro a porta e desço as escadas a tempo ainda de olhar para trás e vê-lo, olhando-me ir embora. “Não posso... mas, quero tanto...” Sigo repetindo estas palavras pela calçada, na esperança de que tu me alcances e tira-me de vez essas idéias. Olho para o céu, é quase noite, logo recebo um pingo gelado de chuva. Parece um caminho sem fim, para que não acha sentido em nada.

De repente, ouço meu nome, tu vieste atrás de mim, ainda vieste... Peço encarecidamente que me deixes, que suma de vez. Tu me pedes para que eu entre no carro, pois a chuva logo virá. Eu apresso o passo, tu desligas o carro, sai ao meu alcance, segura-me firme pelos braços e diz: “Não consegues entender o quanto amo-te?” “Não devo, não posso ficar contigo” Tu repetes incansáveis vezes: “Ama-me! Ama-me! Sou teu, sou teu !” Enquanto o ouço repetir estas palavras, meu coração agita-se ao máximo, meu corpo estremece ao teu toque, meus olhos tentam não olhar os teus, abaixo a cabeça, faço movimentos bruscos, enquanto sinto a força de tuas mãos em mim.

A chuva cai, levanto os olhos, tu ainda repetes as mesmas palavras, olho o movimento de tua boca, teus lábios se tocam desenhando as palavras: “Ama-me! Ama-me! Eu me rendo, e digo: Cala-te, e me beija! E assim, na chuva, na intensidade do que somos, tu me olhas nos olhos e diz: “Ficas comigo nesta noite de chuva? “ Respondo-te sorrindo: “ Fico, não só esta noite, mas todas elas pra sempre ao teu lado.”

2 comentários:

  1. q beleza, seu texto veio como um filme...


    [com relação ao seu comentário]
    esse 'acho q o conheço' é sempre perigoso. Espero não ter feito nada de errado rsrsrs

    volte sim.
    bjs

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  2. Escreve muito bem, conduz com detalhes fazendo com que a gente se envolva na leitura, muito bom!
    Um abraço

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A quem siga vivendo de alegria ou agonia... Eu sigo vivendo da minha alegre e agonizante poesia.
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