sábado, 28 de novembro de 2009

Aqui te amo


As cortinas bailavam ao ritmo do vento que anunciava a tempestade. Deitada na cama eu ouvia ao longe os uivos entrecortando os galhos secos onde as últimas flores de outono se desprendiam. Fecho a janela. A casa está fria e a luzes das velas fazem sombra aos móveis gastos. Olho algumas hortênsias já desfalecidas em um vaso de cristal que ganha um tom amarelado quando deixo em sua companhia o castiçal que me acompanha pelos corredores. Sento na poltrona de veludo, agarro meu livro de poemas e fico a viajar nos versos que tantas vezes foram nossos aliados em noites como essa.
Divago a lembrar teus olhos languidos quando lias em tom compassado, docemente enamorado de cada estrofe que fluía ao som desse acordes que os embalavam. Lembro-me de como tu sorrias ao ler meu poema predileto, dizendo-me sempre mesma coisa: - De novo, meu amor? E depois recompensavas afirmando que leria mil vezes se assim fosse, só para ver meus olhos sorrindo de satisfação por aqueles versos. A poesia era nosso alimento, o amor nosso guia em todos os momentos. Não há um dia em que eu não relembre os teus gestos, gostos, defeitos e qualidades.
Não há um único dia mais importante do que todos que estive ao teu lado. Tu foste a descoberta mais linda, o beijo mais esperado, o abraço mais sincero e o sorriso mais doce. Lembro-me da lareira que aquecia nossos pés gelados quando nos jogávamos no sofá, procurando um ao outro para fazermos amor à nossa maneira intensa e única. Lembro-me das taças de vinho ao chão e das rosas que tu sempre colhias à tardinha e trazia nas mãos o cheiro novo de cada uma. Tuas mãos. Nada era mais sublime que tê-las em mim. Quando me pedias silêncio, colocando os dedos em meus lábios: - Xiiii! Tu falas muito, beija-me! Somos tanto. Ainda somos. Veremos-nos em breve. Ainda te amo, e, deixou-te aqui, os versos que sempre o trazem de volta pra mim:

Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.
Fosforesce a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a perseguir-se.

Define-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.
As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.

Ou a cruz negra de um barco.
Só.
As vezes amanheço, e minha alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Isto é um porto.
Aqui eu te amo.

Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.
As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,
que correm pelo mar rumo a onde não chegam.

Já me creio esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta..
Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.

3 comentários:

  1. O amor, sempre ele.
    A lembrança de um alguém é quase tão intensa quando o sentimento por esse alguém.
    Que seja pleno, em todos os sentidos! E ainda que distante.

    Beijos

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  2. Obrigada minha flor (:
    Sempre estarei por lá . com minhas letras
    e amo estar por aqui,te visitando,amo estar entre essas imagens e letras tão bonitas e que transbordam sentimento!
    Beijos enormes

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  3. Minha amiga menina apaixonada como é lindo esse sentimento. E como o valorizamos mais essa ausência esse barco que sem rumo saiu a procura de um porto seguro.


    Nunca mais
    sairei assim
    nau sem rumo

    naquele adeus
    sem um beijo
    hoje o desejo

    sou velas e convés
    pelos ares e mares
    sonhos e pesares

    nunca mais
    um barco a deriva
    quero teu porto seguro.

    Antonio Campos 21/11/09.

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