terça-feira, 8 de setembro de 2009

Amar sempre vale a pena


Havia um tempo em que nada mais importava. Nem flores, nem sorrisos ou qualquer manifestação de alegria. Tudo era sombrio, via-se somente um raio tímido de sol que teimava em atravessar a fresta da janela que constantemente estava fechada. Era um quarto escuro, e nele habitava alguém que pensava ser ali, sua única morada. Dias inteiros se passaram, desde o amanhecer ao anoitecer, mas isso já não importava, pois existia somente o escuro, por mais que a teimoso raio de sol insistisse em querer mostrar que lá fora havia vida. O tempo não fazia sentido; a vida não despertava interesse, nem quando o gargalhar das senhoras lá fora que passavam pelo caminho estreito por entre a mata que as levavam até os tanques rústicos, nos quais elas lavavam suas roupas surradas e velhas, mas aquele sorriso, estampado no rosto de cada uma delas, era algo ainda mágico. Também se ouvia o burburinho das crianças que brincavam dessas brincadeiras antigas, que ninguém nem se lembra mais. E ali, naquele lugar distante, longe da família e dos amigos, o único desejo era que viessem os livros de Neruda.

Às vezes demoravam a chegar, mas havia algo que nunca falhava, sempre vinha, da pior maneira: o medo, que era a estampa do seu rosto, que ela já nem sabia como era, pois, constantemente era agredido. Não eram os tapas que doíam, nem as cicatrizes que faziam pena de tantas que se fizeram, a dor, era saber que jamais o amor pudesse estar presente de forma verdadeira. “Foi por amor”. Assim, ela pensava, tinha abandonado todos os seus sonhos, para viver apenas um. E o sonho tornou-se pesadelo. Um pesadelo que ela imaginava jamais ter um fim. Pensou muitas vezes ser merecedora de tudo aquilo, deveria sofrer, pelas escolhas que fizera, pela vida louca que queria viver, por tudo que pensou existir de lindo. E, abraçou-se nessa loucura. Tornou-se parte dela. Nos seus mais doces anos, jogou-se no mais profundo abismo, cercado de lama pra todos os lados, sem possibilidade alguma de fuga.

E assim, a doce moça, tornou-se um trapo de linho desgastado, entregue totalmente a melancolia, tristeza e sofrimento. Tudo isso porque acreditou no amor, nas palavras e no carinho de alguém que parecia aos olhos, a perfeição. Muitos a julgaram, e a ainda julgam. Mas, isso já não importa. Ela aprendeu a fazer poesia da dor que sentiu por todos aqueles dias. Ela pensou que havia conhecido o amor, pois, eram tão doces aquelas palavras. No início, tantas promessas, tantos elogios. Onde tudo se perdeu? Por que ela não tentou fugir? Ela tentou. Diversas vezes, ela tentou. E descobriram, e marcaram seu corpo de tal maneira, que a morte segurou-lhe a mão diversas vezes, mas, algo, ainda tinha que ser cumprido, não poderia entregar-se, mesmo em meio ao sangue, as lágrimas e aos livros que foram todos queimados. Ela ainda tinha aquele raio de sol teimoso que insistia em dar-lhe vida. Mas, o tempo era demorado demais, as notícias nunca chegavam, e o único amor que tinha, vinha acompanhado de um ódio mortal, que a abraçou, mas nunca a fez ter um coração de pedra.

Ela sofreu todas as dores possíveis. Perdeu-se e se encontrou em meio a mais profunda tristeza já sentida. Aquilo tudo teria um fim. O raio de sol esquentava-lhe as mãos geladas e dava-lhe força quando sentia fome, frio e sede. Ela precisava unir-se a ele, que era única esperança que ainda lhe restava. Os dias passaram, ela, sem forças, não conseguia ir até a janela, para poder ouvir aquelas gargalhadas das senhoras lavadeiras. Mas, alguém teve piedade e trouxe-lhe a comida, as roupas e o que ela mais gostava: os livros. Eram os livros de poesia que matavam a sua fome, davam-lhe a lágrima saudosa e o sorriso esquecido. E assim, o tempo parecia não ser tempo. O inferno em que vivia já não era de todo sofrimento. Na poesia, sua alma era nobre, seus encantos de menina eram puros, e os seus sonhos, ainda eram possíveis.

Foi então, que tudo teve um fim, ninguém mais a machucaria. Encontraram-na doente, debilitada e desprovida de qualquer razão, mas, viva. O que seria de agora em diante? Ela não sabia o que a esperava, mas ainda sim, acreditava no poder do amor. Ela conheceu o amor, disseram-lhe que era daquele jeito que se sentia. Ela dou-se, amou da maneira que sabia, mas, ela tinha aprendido da pior maneira, e sempre, vinha o desespero de que alguém soubesse de sua história marcada de erros. Ela se desesperava, perdia o ponto de equilíbrio entre a razão e a loucura. Ninguém a entenderia jamais, pois ninguém nunca poderia saber do que ocorrera no passado. “Talvez fosse melhor não amar” – Ela pensou isso, diversas vezes. E assim, fechou-se, pois realmente não sabia amar ninguém e passou a acreditar que amor real, era coisa de poeta. Tornou-se alguém distante do que pretendia.

A vida simplesmente foi seguindo o rumo, como os ventos que passam e trazem as chuvas, cumprindo os ciclos naturais. Era assim, a vida era um ciclo natural. Quinze anos se passaram. Ela já não é mais a mesma. É uma mulher. Deixou de lado muitas coisas. Mas, durante todos esses anos, mesmo que quisesse, mesmo que tentasse, não poderia deixar de acreditar no amor. E então, ele veio. Ele a ouviu, quando ela quis falar. Esse amor, não a fez sofrer como tantos, nem a maltratou na sua ingenuidade. Um amor que estava sempre ali, junto, quando ela chorava ou sorria. Ela conheceu o que é ser amada. Sentiu-se mulher. Enxergou-se de fato no espelho. E decidiu ser poeta. Mesmo sabendo que os poetas são sofredores irremediáveis; mesmo sabendo que o amor tem altos e baixos; mesmo sabendo que tudo pode ter um fim. Não importa, ela sente-se amada.

Ouviu as palavras mais doces, a atenção mais merecida, dessa vez, não por piedade, mas, porque se fez de encantos. Hoje, ela olha para trás e vê o quando valeu a pena não enterrar os sonhos, não amargurar-se e nem deixar de acreditar no que era. Ela poderia ser a pior das mulheres; carregar traumas insuperáveis; decidir ser alguém fria, triste e desprezível, mas, nenhum sentimento pequeno habita seu coração. Ela aprendeu a amar, mesmo que de maneira torta, errônea, exagerada... Ela aprendeu. E se na vida, cada lágrima e sorriso em nome do amor faz valer a pena, ela continuará amando da maneira mais intensa. Hoje, mesmo que esse amor precise de ajuda, ela não mais se desespera em saber que foi tudo em vão, como tantas vezes aconteceu. Nada é vão quando se ama.

E como ela sabe que é amor realmente? É simples, hoje ela está viva, e sabe o que é compreender, esperar, acreditar e nunca abandonar aquilo que cativa. E enquanto o coração ainda bater num descompasso diferente, o sorriso permanecer mesmo em meio às lágrimas, a espera for desgastante e demorada, ou mesmo tudo ter um fim, ainda sim, terá valido a pena.

3 comentários:

  1. Parabéns pelo blog. Convido-a a visitar http://www.pretextoselr.blogspot.com/

    Abraço.

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  2. Amar...por mais doloroso que seja,sempre será amor...
    Viva esse amor que mexe contigo hoje...viva com toda a intensidade...Choneça o amor de verdade...
    Mas te peço....não deixe que te façam sofrer novamente...

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  3. havia um tempo....
    um tempo em que te esquecias de ti....

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A quem siga vivendo de alegria ou agonia... Eu sigo vivendo da minha alegre e agonizante poesia.
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